Abóbora Delica, a doçura gourmet que vem da terra.

A história da abóbora Delica permeia séculos e representa um dos frutos da terra mais bizarros e ao mesmo tempo portadores de mistério. Cores, formas, saliências da casca, curvas e riscas. Abóboras para comer e abóboras para embelezar a casa no outono. A abóbora Delica continua a ser um dos alimentos outonais por excelência e sua colheita é especialmente aguardada nas terras das planícies venetas e lombardas.

Os romanos eram fãs e o poeta Marcial (40 – 104 a.C.) escreveu um divertido epigrama sobre um anfitrião, chamado Cecilio, que adorava usar abóbora em todas as suas receitas, desde o aperitivo até a sobremesa: “...a abóbora Cecilio corta em mil pedacinhos. Você a come no aperitivo, ele a coloca na sopa, serve-a como prato principal, a coloca no acompanhamento”. Os eruditos romanos, além disso, a recomendavam também como remédio para múltiplas enfermidades de saúde. Plínio, o Velho, em sua História Natural, definiu-a como “o refrigério da vida humana, o bálsamo das desgraças”

O monge e herbalista beneditino Vilfrido Estrabão falava da abóbora dizendo que “faz um ótimo serviço na mesa, depois de colhida, melhor se em um certo período do ano, no início do outono, antes que a umidade escondida de suas profundezas comece a se evaporar: agora ainda está macia, mesmo que a casca externa esteja bem seca, e possui uma consistência especial que absorve a gordura das panelas bem quentes e, se cortada em fatias, enriquece os segundos pratos com um sabor doce”.

Sim, a doçura é uma das características típicas, em especial, de algumas tipologias de abóboras. A Delica, também chamada de veneta ou mantovana, é a mais compacta e menos fibrosa, portanto a mais adequada para obter cremes e mousses de consistência e elegância especiais.

Mantova e suas terras produzem abóboras que são extraordinárias e mantêm-se muito bem à cura do tempo. Na verdade, existem aquelas do tipo “reserva” e são aquelas com a coloração da cera vermelha no cabinho. Elas permanecem curando sobre tábuas de madeira em adegas por mais de um ano.

A abóbora Delica é o elemento fundamental para os míticos tortelli de abóbora que em Mantova fazem parte da antiga e nobre cozinha dos Gonzaga. Na verdade, vale a pena dar uma volta pela região de Mantova neste período outonal para experimentar as delícias dos tortelli com abóbora fresca.

E então chegamos ao anglossaxão trick or treat? Docinho ou travessura? Sim, porque a abóbora é o símbolo do dia de Todos os Santos e, em particular, da véspera, na noite de Halloween, 31 de outubro. O próprio nome deriva, de fato, de AllHallowEven (véspera de Todos os Santos).

A abóbora é um bem precioso para qualquer cozinha e sua versatilidade é tal que podia alimentar famílias inteiras sem gastos de dinheiro, mas apenas vivendo dos frutos da terra e dos hortos próximos à casa.

A abóbora Delica é uma daquelas preferidas pelos gourmets e chefs por sua compactação e pela possibilidade de consumi-la em muitas versões. Além disso, a abóbora tem diferentes destinos na cozinha, dependendo sempre da cultura e da tradição local. Desde os risotos das terras lombardo-piemontesas até os tortelli de abóbora mantovanos e emilianos, até a abóbora frita siciliana e campana.

Bernardo Pasquali

S&M