Entre as Dolomitas e o Lago de Garda se estende uma das regiões vinícolas mais fascinantes da Itália: o Trentino-Alto Adige.
Aqui, as vinhas sobem até mil metros de altitude, tocando florestas e castelos, enquanto o sol do dia e as noites frescas esculpem vinhos de extraordinária elegância.
É uma terra de fronteira e de contrastes: duas culturas, duas identidades, duas almas que se encontram na taça.
O Trentino, com sua tradição camponesa e cooperativa, e o Alto Adige, com a precisão centroeuropeia e o amor pela pureza das uvas.
Juntos, dão vida a vinhos que contam histórias antigas e contemporâneas, perfeitamente equilibrados entre tradição e inovação.
O Trentino é um mosaico de vales e encostas ensolaradas. A viticultura aqui é heroica: pequenas parcelas de vinhedos cultivadas com cuidado, muitas vezes à mão, onde cada cacho é fruto de respeito e dedicação.
A Nosiola é a joia branca do Trentino, uma uva autóctone que cresce entre o Vale dos Lagos e as colinas de Trento.
Seu nome remete à avelã, e de fato nas taças se encontram nuances delicadas de frutas secas e flores brancas.
Já no século XVI se falava dela como um vinho das festas de primavera: leve, elegante, com uma mineralidade que remete às rochas dolomíticas.
Das mesmas uvas nasce também o Vino Santo Trentino, um vinho de meditação obtido a partir de uvas passificadas até a Semana Santa. Âmbar líquido, aroma de mel e frutas cristalizadas: uma obra-prima de doçura para saborear com o strudel de maçã ou com queijos azuis.
O Teroldego, cultivado na Piana Rotaliana, é considerado o “príncipe dos vinhos trentinos”.
Suas raízes remontam à Idade Média, mas foi no século XIX que conquistou os paladares austríacos e alemães, tornando-se símbolo do Trentino vinícola.
No copo brilha um vermelho rubi profundo, com aromas de amora, ameixa e especiarias. No paladar é cheio, mas nunca pesado, graças a uma frescura vibrante que convida ao próximo gole.
Vai magnificamente com a carne salada e fasoi, com ensopados, polenta e cogumelos ou uma tábua de queijos curados.
“Serve o vinho! Excelente Marzemino!” exclama Don Giovanni na ópera de Mozart.
Esta uva, típica da Vallagarina, conquistou a eternidade graças a essa citação, mas seu charme está todo na taça: um tinto elegante, com aroma de violetas e frutas vermelhas, suave e harmonioso.
Perfeito com canederli com manteiga, risotos de cogumelos, ou carnes brancas ensopadas.
É um vinho que seduz com delicadeza, e que conta a parte mais poética do Trentino.
O Alto Adige é uma região onde a viticultura é arte e disciplina. Aqui cada fileira tem seu microclima, e o cuidado com o detalhe se reflete nos vinhos: limpos, precisos, minerais.
O uso dos nomes das uvas (em alemão: Weißburgunder, Lagrein, Vernatsch) testemunha a forte identidade cultural dessas montanhas bilíngues.
O Gewürztraminer leva o nome de Termeno (Tramin em alemão), uma pequena vila nas colinas ao sul de Bolzano.
É um dos vinhos mais perfumados do mundo: notas de rosa, lichia, especiarias doces e citrinos.
Na boca é amplo e aveludado, mas sempre equilibrado por uma veia mineral.
É o vinho ideal para quem ama experiências sensoriais intensas.
Perfeito com pratos asiáticos picantes, queijos saborosos ou também com pratos à base de frutas secas e mel.
Introduzido no final do século XIX, o Sauvignon Blanc encontrou nas encostas de Appiano, Caldaro e Vale Isarco um terroir ideal.
O resultado? Vinhos frescos, tensos, minerais, com aromas de sabugueiro, folha de tomate e citrinos verdes.
Um copo de Sauvignon do Alto Adige é como uma lufada de ar de montanha.
Combina perfeitamente com risotos de ervas, aspargos, peixe no vapor ou pratos vegetarianos leves.
O Lagrein é o tinto mais antigo do Alto Adige, mencionado em documentos de 1379.
Cultivado na concha de Bolzano, proporciona vinhos intensos, encorpados e aveludados, com aromas de amora, chocolate e baunilha.
Na versão Dunkel (escura) é profundo e estruturado, enquanto a versão Kretzer (rosé) é mais fresca e fácil de beber.
Acompanha perfeitamente pratos de caça, joelho de porco, goulash tirolês ou queijos curados.
A Schiava, ou Vernatsch, é o vinho da amizade, aquele que antigamente estava em todas as mesas camponesas.
Cultivada ao redor dos lagos de Caldaro e Santa Maddalena, proporciona vinhos claros, perfumados e leves, com notas de cereja e amêndoa.
É perfeita para um almoço de verão com speck, pão de centeio, saladas de batata e queijos jovens.
Um vinho simples apenas na aparência: na verdade, é o coração mais autêntico do Alto Adige.
No Trentino-Alto Adige, a cozinha é o companheiro natural do vinho.
As sopas de montanha, a caça, o speck, mas também o peixe de lago encontram combinações perfeitas com os vinhos da região.
Teroldego Rotaliano → carne salada e fasoi
Nosiola → truta do Garda ou aperitivos de lago
Marzemino → risoto de cogumelos ou canederli com manteiga
Lagrein → caça e ensopados
Gewürztraminer → pratos picantes e queijos curados
Schiava → tábua de speck e pão preto
Cada encontro entre vinho e comida é uma maneira de ouvir a voz da montanha.
Quem ama vinho deveria pelo menos uma vez percorrer a Rota do Vinho do Alto Adige, que se estende entre Bolzano, Caldaro e Termeno: colinas douradas, vilarejos pitorescos e adegas acolhedoras onde degustar diretamente dos produtores.
Ou então descobrir as adegas do Vale de Cembra, onde as vinhas sobem em terraços de pedra, proporcionando panoramas de tirar o fôlego.
Cada parada é um encontro: com o vinho, com as pessoas, com a cultura viva de uma região que não para de surpreender.
O Trentino-Alto Adige não é apenas uma região vinícola: é uma filosofia.
Aqui o vinho não é moda, mas memória. É a maneira como a natureza conta sua história, um copo de cada vez.
Seja um copo de Nosiola ou de Gewürztraminer, cada gole é uma conversa entre o homem e a montanha — uma poesia que se renova há séculos.
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